30/09/2014

David Thomas And Two Pale Boys - Surf's Up!



Y 30|MARÇO|2001
discos|escolhas

DAVID THOMAS & TWO PALE BOYS
Surf’s Up
Glitterhouse, distri. Zona Música
8|10

O mundo de David “fat genius” Thomas não está longe do dos Suicide. O líder dos Pere Ubu construiu uma casa arruinada no coração de uma América amaldiçoada e é de lá que regurgita as suas visões de “paranoid android” iluminado. Um passo em frente e é o abismo. “Surf’s up” (mais uma dedicatória explícita aos Beach Boys) começa numa fabulosa capa (uma dona de casa psicopata guarda a entrada do rancho) e termina em canções de raiva, manadas em tropel, declamações de “film noir” (“Ghosts”), claustrofobia e… aracnofobia (“Spider in my stew”). No seu disastodrome particular crescem melodias de folk “americana” atormentada, rock & roll em fúria (“Runaway”), andamentos de cowboy tripado (“Night driving”) e uma marcha fúnebre em que o jazz, clonado nos fabulosos fraseados de trompete de Andy Diagram, naufraga num oceano de manias. E, se querem saber o que existia nesse lugar, antes do “blackout”, não percam tempo a consultar os registos, é mesmo o tema “Surf’s up”, composto por Brian Wilson e Van Dyke Parks em 1971. O medo aconselha a não acreditar que esta América existe de verdade.

Steve Fisk - 999 Levels Of Undo



Y 30|MARÇO|2001
escolhas|discos

STEVE FISK
999 Levels of Undo
Sub Pop, distri. Música Alternativa
8|10

Se a Alemanha teve nos anos 80 em Holger Hiller o seu demiurgo dos samples, na mesma época, nos EUA, um natural da costa noroeste, Steve Fisk, revolucionava o universo do “cut & paste” digital, num álbum que se transformou em obra de culto, “448 Deathless Days”, editado na SST em 1987. No mesmo ano, uma participação em “Escape from Noise”, dos Negativland, chamou de novo a atenção para o seu nome. Os anos 90 viram-no trabalhar ao lado dos Nirvana e dos Soundgarden ou na produção da estreia dos Screaming Trees. “999 Levels of Undo” é o prolongamento lógico de “448 Deathless Days” e outra obra que ficará para a história. Uma capa bizarra (melhor, várias capas alternativas…) envolve um sem-número de manipulações eletrónicas operadas com brilhantismo em torno do drum’n’bass, da colagem vocal e de elementos étnicos descontextualizados, num registo de excentricidade plenamente amadurecido. Amon Tobin, Residents e Messer Für Frau Muller, misturados num batedor desregulado.