20/05/2010

A lua sobre o macaco [World]

Sons

5 de Fevereiro 1999
WORLD

A lua sobre o macaco

Martin Carthy é uma das lendas vivas da folk inglesa. Integrou dois dos grupos responsáveis pelo “boom” da música tradicional no seu país, os ortodoxos The Watersons e, mais tarde, os pioneiros do folk rock, Steeleye Span, mantendo ainda uma colaboração regular com o violinista e ex-Fairport Convention Dave Swarbrick, a par de uma já extensa discografia a solo que inclui álbuns brilhantes como “Landfall”, “Because it’s there”, “Shearwater”, “Sweet Wivelsfield”, “Out of the Cut” e “Right of Passage”. “Signs of Life”, o seu mais recente trabalho a solo, reúne uma série de versões de canções que, segundo diz, o marcaram na época em que começou a manifestar o seu interesse pela folk.
Como sempre, a sua voz e a sua guitarra operam, por si só, maravilhas, transformando temas como “New York mine disaster, 1945”, dos Bee Gees, ou “Heartbreak hotel” (um dos primeiros 78 rotações que comprou, com o original de Elvis Presley, embora a autoria do tema se deva a Mae Hexton, mãe de Hoyt Axton) em baladas às quais a sua voz inconfundível imprime um cunho tradicional. O álbum inclui ainda versões de um tema que Carthy já interpretara num dos seus discos de parceria com Dave Swarbrick, “Princ Heathen”, e “Sir Patrick Spens”, que os Fairport Convention usaram em “Full House”, num registo diferente.
Destaque ainda para as ocasionais prestações, no violino, da sua filha, Eliza Carthy, num álbum que reforça ainda mais a posição de Martin Carthy como um dos nomes clássicos e, simultaneamente, mais inovadores) da música folk deste século. (Topic, distri. Megamúsica, 8.)

Voltamos a encontrar Martin Carthy nos Brass Monkey, outro dos projectos em que esteve, desde o início, envolvido, participando nos dois primeiros álbuns desta banda vocacionada para a interpretação do reportório tradicional inglês em instrumentos de sopro: “Bras Monkey” e “See how it Runs” (reeditados em CD, num único volume, “The Complete Brass Monkey”), respectivamente de 1983 e 1986. Volvidos 13 anos, os Brass Monkey regressam com a mesma formação, com John Kirkpatrick, no acordeão e concertina, Howard Evans, no trompete, Richard Cheetham, no trombone, e Martin Brinsford, na percussão, e um novo álbum que nada deve aos anteriores.
Se em “Signs of Life” é uma certa discrição vocal de Carthy que sobressai, em “Sound & Rumour” destaca-se o lado mais épico das suas vocalizações, valorizadas pela nobreza dos metais e pelas “squeeze boxes” de Kirkpatrick. “The flash lad”, “An acre of land”, “Old horse”, “The roving journeyman”, “The old Virginia lowlands” e “Soldier, soldier/The flowers of Edimburgh” são clássicos instantâneos, apenas equiparáveis à obra-prima “Anthems in Eden”, de Shirley and Dolly Collins. Como complemento dos temas vocalizados os Brass Monkey dedicam os “sets” instrumentais ao levantamento e revitalização das velhas danças “morris”, num trabalho próximo dos primeiros álbuns dos Albion Country Band.
Empolgantes, sempre que Carthy intervém, inventivos nos arranjos instrumentais, os Brass Monkey ressuscitaram incólumes da sua letargia. Ou, como referem na capa, de uma “animação suspensa” ou de um “congelamento criogénico” do qual saíram como se nunca tivessem estado verdadeiramente ausentes. (Topic, distri. Megamúsica, 9.)

Agora ligados a uma multinacional, os Luar na Lubre prosseguem o seu caminho em direcção a um universalismo que lhes permita atingir, a curto prazo, um estatuto semelhante ao dos Milladoiro, como embaixadores da música tradicional da Galiza no mundo. “Plenilunio” pode ser o impulso decisivo, uma vez que o grupo soube tornar mais aberta e sofisticada a sua música sem sacrificar o essencial, a ligação criativa às raízes que caracteriza os álbuns anteriores: “O Son do Ar”, “Beira-Atlântica” e “Ara Solis”. “O son do ar” ressurge, aliás, numa nova versão, no instrumental de abertura de “Plenilunio”, revelando de imediato uma mudança, em termos de sonoridade, na utilização da espacialidade, permitindo deste modo uma respiração mais ampla dos instrumentos.
Bieito Romero continua a fazer soar a gaita-de-foles, a sanfona e o acordeão diatónico de forma superlativa, enquanto a voz de Rosa Cedron (que também toca violoncelo) se destaca como elemento preponderante, centrando em si o lado eventualmente mais cativante da música do grupo. Em “Os teus ollos” consegue mesmo ser tocante, num embalo de tristeza em que a simplicidade das palavras contrasta com a complexidade de uma orquestração barroca: “Cando se pon a lúa tras dos penedos, choran as estreliñas todas do ceo/Tamén eu choro, tamén eu choro, cando non me alumean eses teus ollos”.
“Ao-Tea-Roa” evoca o intimismo melódico dos Chieftains, de “The Chieftains 5”, num modo de “irlandização” que, literalmente, explode em glória em “Roi xordo”. Mas o mar e a claridade de um “luar na lubre” (“Lubre” era o bosque sagrado onde os celtas celebravam os seus ritos) tudo banham em “Ronsel”, um original de Bieito Romero, onde este demonstra por que é, hoje, um dos maiores executantes, na gaita-de-foles e na sanfona, da Galiza. “Cantiga de Falvan” cruza a “scooter” dos Gwendal com os menestréis Jethro Tull, a sanfona mergulha no mais profundo da Galiza medieval, em “Romance de Bernaldino e Sabeliña”, até o baile popular fazer valer os seus direitos no tema final, “Galaecia”. Depois de “Ara Solis”, “Plenilunio” garante aos Luar na Lubre outro triunfo. (Warner Bros, distri. Warner Music, 9.)

Ala Dos Namorados - Solta-se O Beijo



Sons

5 de Fevereiro 1999

Beijos ao vivo

Ala dos Namorados
Solta-se o Beijo (6)
Ed. e distri. EMI-VC

            A Ala dos Namorados é uma boa e sólida banda portuguesa. Das poucas, aliás, que ainda se podem considerar genuinamente portuguesas. “Solta-se o Beijo” reúne material gravado ao vivo, o ano passado, em Paço de Arcos, dos seus três álbuns de estúdio, “Por Minha Dama” e “Ala dos Namorados”, ambos de 1994, e “Alma”, de 1996. Mais um original, “Solta-se o beijo”, e três temas nunca antes gravados pelo grupo, “Can’t help falling in love”, “Perdidamente” e “Não tragais borzeguis pretos”. De “Solta-se o beijo” nada a dizer de especial, num tema de “music hall”, com letra de Catarina Furtado, vocalizado pela convidada Sara Tavares. As harmonias vocais dos Vozes da Rádio funcionam como mais-valia no “standard”, “Can’t help falling in love”, enquanto “Perdidamente”, um original dos Trovante sobre um poema de Florbela Espanca, conta novamente com uma vocalização de Sara Tavares, cujos trejeitos não fazem esquecer Luís Represas. O tom de música antiga, tão caro à Ala, está presente no tradicional do séc. XVI “Não tragais borzeguis pretos”, no registo de trovador que casa bem com a voz de Nuno Guerreiro. O modo como a Ala dos Namorados se apropria do universo folk, adoptando-a a um discurso original, é, aliás, uma das características mais fascinantes do grupo, exemplarmente demonstrada em temas como “De tudo e de nada” ou no belíssimo, e colorido com tonalidades medievais, “Manto negro”. E se a voz de Nuno Guerreiro se mostra tão à vontade tanto nos ambientes mais fadistas como nas baladas ou nas marchas populares, já o registo mais agudo de fantoche que utiliza em “Princesa desalento” irrita sobremaneira, um final infeliz para um disco algo desequilibrado, pautado com demasiada frequência pelo ruído das palmas da assistência. Nada como a intimidade do estúdio para fazer ressaltar a paixão dos namorados.

Maria Ana Bobone - Senhora Da Lapa

Sons

5 de Fevereiro 1999
PORTUGUESES

Maria Ana Bobone
Senhora da Lapa (7)
M.A, distri. Dargil


Belíssima, a apresentação gráfica desta “Senhora da Lapa”, como é timbre da editora M.A. (uma espécie de ECM mais clássica), ajustando-se perfeitamente à beleza da voz de Maria Ana Bobone e à música composta por João Paulo Esteves da Silva e Ricardo Rocha. Gravado na mesma igreja de “Luz Destino", onde Bobone era ainda a convidada de um trabalho pautado por ambiências barrocas, “Senhora da Lapa” é um álbum vincadamente contemplativo, aberto às refracções da pedra e à obscuridade do tempo, onde a cantora faz questão de mostrar quão longe está já do registo fadista que marcou a fase inicial da sua carreira.
Sobre poemas de Matilde Rosa Araújo, Sebastião da Gama, Maria Pimentel Montenegro, David Mourão-Ferreira, Arlindo de Carvalho e Fernando Pessoa o piano de João Paulo e a guitarra de Ricardo Rocha (e, em dois temas, o saxofone de Peter Epstein, decerto um admirador de Jan Garbarek) desenham cambiantes classicizantes, dos quais a voz de Bobone tira o máximo partido.
Destaque, num disco onde o equilíbrio e a serenidade predominam, para os sombreados satieanos do piano de João Paulo, em “ABC”, e para as interpretações de Bobone, em “Ar”, carregada de dramatismo, “Os teus olhos”, e “Elegia”, um crepúsculo de tons menores, “jazzy” e introspectivos, também neste caso servido por uma execução de superior contenção por parte de João Paulo Esteves da Silva.

De noite, na igreja [Maria Ana Bobone]

Sons

29 de Janeiro 1999

Maria Ana Bobone lança “Senhora da Lapa”

De noite, na igreja


Em “Luz Destino”, Maria Ana Bobone fazia flutuar a sua voz entre o cravo e as entoações barrocas de João Paulo Esteves da Silva e a guitarra portuguesa de Ricardo Rocha, na nave de uma igreja abandonada. Os três voltaram ao mesmo local, trocaram de posições e o resultado é “Senhora da Lapa”, verdadeiramente o álbum de estreia da cantora. Clássico, ideal para meditar, assombrado pelos ecos da noite.


Maria Ana Bobone vem do fado, sente como enraizadamente portuguesa a música que canta e não esconde o desejo de, um dia, gravar um disco inteiro com reportório clássico. “Senhora da Lapa”, editado com o selo M.A. (uma espécie de variante, mais romântica, da ECM), leva mais longe o gosto pelo intimismo e pela religiosidade que já despontava em “Luz Destino”. A par da voz, brilham as palavras de Fernando Pessoa e de Sebastião da Gama. O PÚBLICO conversou com a cantora.

PÚBLICO – Em “Senhora da Lapa” os intervenientes são os mesmos, mas a hierarquia mudou...
MARIA ANA BOBONE – Resolvemos, desta vez, fazer um disco meu. Era suposto ser um disco de “lullabies” [canções de embalar], mas acabaram por ir surgindo outras músicas diferentes. Tudo isto porque o Tod [director da editora] achava que a minha voz era a ideal para cantar esse tipo de canções. Podia ter alguma graça fazer um disco desses... Mesmo assim há algumas semelhanças em canções como “Jesus embala o Menino” e “Luar”, que parece uma música infantil e depois se complica, à maneira do seu autor, o João Paulo...
P. – Está a cantar cada vez mais próximo de um certo registo clássico...
R. – Se tivesse de catalogar o meu estilo era, sem dúvida, mais para o clássico, embora entre aspas, entre muitas aspas...
P. – O fado ficou definitivamente para trás?
R. – Acho que não. A música deste disco é muito portuguesa, tem algumas raízes no fado. Mas é verdade que quis sempre explorar outros caminhos. As canções deste disco não são, de todo, fados, mas sinto nelas essa portugalidade. Deve lá haver qualquer coisa na estrutura...
P. – A quem se deve a escolha dos poemas, entre os quais sobressaem dois de Sebastião da Gama, incluindo as duas versões do título-tema?
R. – Andámos, o João Paulo e eu, a vasculhar em alguma material que ele já tinha feito. “Senhora da Lapa” foi feita de propósito para o disco, assim como o outro poema de Sebastião da Gama, usado em “ABC”.
P. – Sentiu particular prazer em cantar algum dos poetas que aparecem no disco?
R. – Talvez o Fernando Pessoa, em “Flux”, bem como a Maria Pimentel Montenegro, em “Dos teus olhos”.
P. – Como se processou a transição de uma posição secundária, em “Luz Destino”, para o protagonismo de “Senhora da Lapa”?
R. – O outro disco não era um disco meu! Eles já tinham feito o disco todo e chamaram-me à última hora para cantar. Fui apenas mais um instrumento. Neste disco, pelo contrário, foi tudo moldado a mim. Eles compuseram e tocaram para mim. Daí as tais canções de embalar que eles também achavam muito apropriadas para a minha voz.
P. – Quer dizer que, pelo menos nesta primeira fase da sua carreira, ainda não detém o controle sobre a orientação estética a seguir?
R. – Não tenho muito, não! Se fosse eu a escolher exactamente o que queria, seria eu sozinha a fazer o disco! Não tenho controle no sentido em que respeito as personalidades e opções dos outros músicos. É um bocado: ‘Olhem, eu sou isto, o que é que queres, o braço, a perna, o joelho ou o pé?’. Posso perfeitamente não escolher o pé!... Quer dizer que não canto tudo o que me puseram à frente. Aliás havia, à partida, algumas canções com que não me identificava. Daí que o disco tivesse demorado algum tempo a sair [um ano e meio]. Porque quis acrescentar-lhe mais duas ou três músicas mais mexidas: “Hortelã-mourisca”, “Ternura” e “Espelho quebrado”, que é um fado. Achava o alinhamento original todo muito igual, lento, embora, claro, este não seja um disco para dançar, mas, pelo contrário, um convite à reflexão, à interiorização.
P. – A presença, no disco, de um saxofonista, Peter Epstein, não deixa de fazer lembrar outra colaboração, muito antiga, entre uma fadista e um saxofonista: Amália Rodrigues e Don Byas...
R. – É mera coincidência. O saxofonista aparece porque já tinha gravado com o João Paulo num disco dele, instrumental, chamado “Mergulho”. O Tod Garfinkle, da editora, resolveu misturar no meu disco o saxofone, até porque o Peter já manifestara antes o seu apreço pela minha música. Adaptou-se lindamente ao “feeling” do disco.
P. – Prefere ouvir-se a si própria a cantar fado, acompanhada por guitarras e violas, ou neste tipo de reportório, acompanhada por piano?
R. – Ouço-me a mim própria de uma maneira que só eu conheço. Ninguém mais sabe. Sinto-me bem das duas maneiras. Mas, muito mais do que de uma casa de fados, gosto do ambiente de uma igreja, como aquela onde gravei este disco, onde as condições acústicas são fabulosas.
P. – Em que altura e em que condições é que foi gravado o álbum?
R. – Foi espectacular! Já com o “Luz Destino” senti a mesma sensação, de estar numa igreja grande e vazia, à noite, à uma da manhã, com tudo fechado, silêncio lá fora, só com umas luzinhas acesas. Eu cantava mesmo de frente para o altar, com o gravador em cima do altar. É uma sensação única, poder cantar à vontade, soltar tudo! Fabuloso!
P. – Ainda canta em casas de fado?
R. – Nunca cantei, por sistema, em casas de fado. Tenho algumas saudades, mas a verdade é que o meu actual estilo de vida – tenho aulas de canto de manhã e dou aulas de música, à tarde, num colégio particular – não mo permite. Com o tempo que me sobra, trato da minha carreira.
P. – Emancipou-se, então, em definitivo, do grupo de fadistas de que fazia parte com outros jovens fadistas, o Alma Nova?
R. – Isso já é, completamente, história. Claro que, se o João Braga me convidar para um espectáculo, eu vou com todo o gosto e alinho. Eu já gravei, já fiz, já andei mais do que os outros, mas há sempre uma relação.
P. – O contrato com a M.A. prevê a edição de mais discos?
R. – Vou dizer uma coisa fantástica: não existe nenhum contrato! [Risos.] É tudo feito na base da boa-fé. O Tod gosta da minha música, a editora paga-nos, tem sido tudo impecável. Nunca vi isto em mais lado nenhum. E não há exclusividade. A qualquer momento posso decidir outra coisa qualquer. É um bom recado para as editoras. Acho que é a maneira mais honesta de trabalhar. Se não estiver satisfeita, ou a editora não estiver satisfeita, acabamos a ligação. O que obriga ambas as partes e esforçarem-se para se aproximarem.
P. – Já pensou alguma vez em gravar um disco só com reportório clássico?
R. – Sim, já me passou pela cabeça. Mas ainda não estou preparada, nem conheço reportório suficiente. Era mais por achar graça, não como estilo de vida. Tenho uma personalidade um bocado instável. Gosto de fazer várias coisas, de não me prender a uma só.

Ani di Franco - Up Up Up Up Up Up

Sons

29 de Janeiro 1999
DISCOS – POP ROCK

Mãos para cima

Ani DiFranco
Up Up Up Up Up Up (8)
Cooking Vinyl, distri. Megamúsica


Ao fim de nove anos de carreira e doze álbuns gravados, não se pode dizer que Ani DiFranco seja dada a poupanças no que diz respeito a mostrar ao mundo as suas capacidades de compositora-intérprete. “Up Up Up Up Up Up” (por pouco não chegava a “Seven-Up”…) é o 12º álbum da sua discografia e surge não muito tempo depois de “Little Plastic castle”, cujas vendas, a rondar os 244 mil exemplares, o levaram a subir ao 22º lugar do top de vendas do Billboard. Para Ani DiFranco, não se põe, sequer, a questão do esbanjamento. Primeiro, porque o seu talento chega e sobeja para encher álbuns de enfiada. Depois, porque ela própria detém todo o poder sobre a carreira, já que lhe pertence a editora para onde grava, a Righteous Babe, com sede em Buffalo, de onde é natural. Desta maneira Ani DiFranco tem inteira liberdade para fazer aquilo de que mais gosta: a reavaliação constante da sua música e da sua evolução enquanto intérprete. Ani DiFranco adopta as suas próprias normas, que passam ao lado da estrutura convencional da canção. Em “Up Up Up Up Up Up”, trata-se da exposição de ambientes e cambiantes interiores que Ani veste com arranjos atmosféricos, vagamente jazzy nalguns casos, declaradamente experimentais e quase obsessivos noutros. Mathilde Santing (repare-se na semelhança de entoações e de timbres, em “Come away from it”) e Suzanne Vega (numa simbiose com Kate Bush, em “Virtue”) serão, porventura, os dois nomes mais próximos das suas próprias concepções e motivações estéticas. O gosto pelo insólito e pela camuflagem vocal estão presentes em “Jukebox”, “Trickle down” e “Angel food”, neste caso com a voz enfiada no mesmo cabaré-jazz e nas mesmas noites negras de Barry Adamson. “Hat shaped hat”, a digressão de onze minutos e meio finais, dispara em acentos jazz e “funky” com as agulhas apontadas para a pista de dança, entrecortados por interjeições e acentuações bizarras reveladoras de uma coragem e de uma maturidade que em “Little Plastic Castle” já eram visíveis, mas que em “Up Up Up Up Up Up” se confundem com um saudável descaramento. Para cima, sempre para cima, parece ter-se tornado o lema definitivo desta compositora, que, também no cinema, não pára. Depois de assinar participações nas bandas sonoras de “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “O Chacal” e “All over me”, Ani DiFranco está pronta para compor para “Steal this Movie (Abbie!)”, um “biopic” independente sobre a vida de Abbie Hoffman, com realização de Robert Greenwald. Também na televisão a voz de Ani DiFranco pode ser ouvida, na série de humor The Mississipi River: River of Song. Quanto ao 13º e próximo álbum, já não deve tardar…